Alma de Jardineira

domingo, outubro 31, 2010

ferramentas despropositadas



como se pegasse em ferramentas
despropositadas: a charrua
para arrancar uma flor,
o martelo para ver mais perto.

Gonçalo M. Tavares, in "Uma Viagem à Índia"

sábado, outubro 30, 2010

o que não daria eu pela memória


(...)
O que não daria eu pela memória
De que tu me dissesses que me amavas
E de não ter dormido até à aurora,
Dissoluto e feliz.

Jorge Luis Borges, in "A Moeda de Ferro"

segunda-feira, outubro 25, 2010

fora de ti há o mundo




Uma árvore está quieta,
murcha, desprezada.
Mas se o poeta a levanta pelos cabelos
e lhe sopra os dedos,
ela volta a empertigar-se, renovada.
E tu, que não sabias o segredo,
perdes a vaidade.
Fora de ti há o mundo
e nele há tudo
que em ti não cabe.

Homem, até o barro tem poesia!
Olha as coisas com humildade.

Fernando Namora, in "Mar de Sargaços

sexta-feira, outubro 22, 2010

a loucura das praias no espaço

(...)
O amor acende no espelho um pouco de mentira
como a loucura das praias no espaço
da sua transparência.
(...)

A. J. Vieira de Freitas

segunda-feira, outubro 18, 2010

tu que habitas a montanha suspensa


tu que habitas a montanha suspensa
e soltas os cavalos que trazem a alvorada
inclina a fronte louca crivada de planetas
transmuda a água em fogo
oferece-nos o lume
derrama a névoa espessa

e dá-me o dom do sono

Madalena Férin


sábado, outubro 09, 2010

nem sequer sou poeira

(...)
O meu rosto (que não vi)
Não projecta uma cara em nenhum espelho.
Nem sequer sou poeira. Sou um sonho

Jorge Luis Borges, in "História da Noite"