Alma de Jardineira

domingo, agosto 29, 2010

pura flor de vento


(....)
Tudo é secreto e de remoto exemplo.
Todos ouvimos, longe, o apelo do Anjo.
E todos somos pura flor de vento.

Cecília Meireles

sexta-feira, agosto 27, 2010

estrangeiros ainda

Nunca mais voltaremos a caminhar na noite - até porque não era na noite que tu e eu caminhávamos. Mas na manhã. Límpida. Rente à terra nua.
Estrangeiros ainda à corrosiva ondulação da sombra.

Eugénio de Andrade

quinta-feira, agosto 26, 2010

um lugar despido do inverno

(...)
Que queres tu ainda?
O sopro das dunas sobre a boca?
A luz quase despida?
Fazer do corpo todo
um lugar desviado do inverno?

Eugénio de Andrade

quarta-feira, agosto 18, 2010

às vezes



Um amigo é às vezes o deserto,
outras a água.

Eugénio de Andrade

quarta-feira, agosto 11, 2010

no incerto silêncio

no obscuro desejo,
no incerto silêncio,
nos vagares repetidos,
na súbita canção

que nasce como a sombra
do dia agonizante,
quando empalidece
o exterior das coisas,

e quando não se sabe s
e por dentro adormecem
ou vacilam, e quando
se prefere não chegar

a sabê-lo, a não ser,
pressentindo-as, ainda
um momento, na aresta
indizível do lusco-fusco.

Vasco Graça Moura

domingo, agosto 01, 2010

O nome parece a infância

O nome parece a infância.
Quando na velhice é termos vindo
Sem pressa

Para dentro
Do nome se esvazia o corpo quando o corpo cai
É um fruto.

O nome é ainda
O modo como chamas.

O nome é a arma contra mim. O maior perigo.
Com os teus lábios podes destruir-me.

Daniel Faria