Alma de Jardineira

domingo, janeiro 31, 2010

dos meus dias partidos um a um

Devias estar aqui rente aos meus lábios
para dividir contigo esta amargura
dos meus dias partidos um a um

- eu vi a terra limpa do teu rosto,
só no teu rosto e nunca em mais nenhum.

Eugénio de Andrade

sexta-feira, janeiro 15, 2010

este rumor tão leve

(...)
Que diremos ainda? Serão palavras,
isto que aflora nos lábios?
Palavras, este rumor tão leve
que ouvimos o dia desprender-se?
Palavras, ou luz ainda?
(...)

Eugénio de Andrade

quinta-feira, janeiro 14, 2010

Fazer da palavra um barco

Fazer de uma palavra um barco
é todo o meu trabalho
ou da flor do linho o espelho
onde a luz do rosto cai
excessiva.

Eugénio de Andrade

quarta-feira, janeiro 13, 2010

desprende-te de mim

É Outono, desprende-te de mim.

Solta-me os cabelos, potros indomáveis
sem nenhuma melancolia,
sem encontros marcados,
sem cartas a responder.

Deixa-me o braço direito,
o mais ardente dos meus braços,
o mais azul,
o mais feito para voar.

(...)

Eugénio de Andrade

domingo, janeiro 10, 2010

como dói um pássaro

(...)
- Cala-te, as palavras doem.
Como dói um barco,
como dói um pássaro
ferido
no limiar do dia.
Amo-te.
Amo-te para que subas comigo
à mais alta torre,
para que tudo em ti
seja verão, dunas e mar.

Eugénio de Andrade