Alma de Jardineira

terça-feira, setembro 29, 2009

las rosas para la poesia


(...)
Sólo el hombre pudo inventar para el día la noche,
el hambre para el pan,
las rosas para la poesía.

Jaime Sabines

domingo, setembro 27, 2009

todo o azul da manhã

Quer voz lunar insinua
o que não pode ter voz?

Que rosto entorna na noite
todo o azul da manhã?

Que beijo de oiro procura
uns lábios de brisa e água?

Que branca mão devagar
quebra os ramos do silêncio?


Eugénio de Andrade

sábado, setembro 26, 2009

um rasto de lágrima acesa

O que eu sei é que mesmo no sono
há um rumor que não dorme,
um jeito da luz pousar, um rasto
de lágrima acesa.

É sobre o meu corpo que chove.

Eugénio de Andrade

sexta-feira, setembro 25, 2009

deste amor a escorrer melancolia

Dizem que há outros céus e outras luas
e outros olhos densos de alegria
mas eu sou destas casas, destas ruas
deste amor a escorrer melancolia.

Eugénio de Andrade

quarta-feira, setembro 23, 2009

Creio que foi o sorriso

Creio que foi o sorriso,
o sorriso foi quem abriu a porta.
Era um sorriso com muita luz
lá dentro, apetecia
entrar nele, tirar a roupa, ficar
nu dentro daquele sorriso.
Correr, navegar, morrer naquele sorriso.

Eugénio de Andrade

terça-feira, setembro 22, 2009

Nem sempre um homem é um lugar triste.

Nem sempre um homem é um lugar triste.
Há noites em que o sorriso
dos anjos
o torna habitável e leve:
com a cabeça no teu regaço
é um cão ao lume a correr às lebres.

Eugénio de Andrade

quinta-feira, setembro 17, 2009

já nada quer dizer

(...)
Meu jardim, minha cerca, meu pomar.
Perpassa a Ideia e mói, como verruma.
Falar mas para quê? Só por falar?
Já nada quer dizer coisa nenhuma.
(...)

Fernanda de Castro

quarta-feira, setembro 16, 2009

como um sentimento de que se tem pudor

Sonho, mas não parece.
Nem quero que pareça.
É por dentro que eu gosto que aconteça
A minha vida.
Íntima, funda, como um sentimento
De que se tem pudor.
Vulcão de exterior
Tão apagado,
Que um pastor
Possa sobre ele apascentar o gado.
(...)

Miguel Torga

terça-feira, setembro 15, 2009

livre mas triste


(...)
Sinto-me livre mas triste.
Vou livre para onde vou,
Mas onde vou nada existe.
(...)

Fernando Pessoa

domingo, setembro 13, 2009

pitangueiras

semeio
três pequenas sementes de pitanga

porque
a vida continua

sábado, setembro 12, 2009

vazios despovoados

(...)

Temos fantasmas tão educados
que adormecemos no seu ombro
somos vazios despovoados
de personagens de assombro
(...)

Natália Correia, in "O Nosso Amargo Cancioneiro"