Alma de Jardineira

terça-feira, setembro 30, 2008

A propósito de gaivotas




A PROPÓSITO DE GAIVOTAS

para Lília Mata



No silêncio das manhãs respiro o voo
das gaivotas no esforço lento do bater de asas

Suave é o gosto da maresia
embebido nas gotas de sol sobre as pedras

Olhamos o horizonte na espera dos barcos
e sorrimos às crianças que passam devagar à superfície
das nossas memórias familiares

E quando damos por nós
o dia esfumou-se-nos entre os dedos
como resíduos que para sempre nos confortarão
no seio dos nossos inconsequentes quereres
às vezes confundidos no universo do tempo
com as obscuras vozes mascaradas

de medos

José António Gonçalves
(inédito, 2003)

domingo, setembro 28, 2008

Açucenas

Açucenas
que transformam o Outono na minha estação
Preferida

quarta-feira, setembro 24, 2008

quando

quando o tempo nos esmaga com a sua asa
apetece ser tudo
apetece ser nada

segunda-feira, setembro 22, 2008

Estribilhos de um dia de Verão

1
Um nó de luz ou uma lágrima:
nada mais era quando despertava

2
Sabor de água, puro sabor
de ser matinal até doer.

3
Sabor de ser
ardor de florir,
rumor de amanhecer.

4
Ser
da neve ao fogo um só ardor.

5
Um só fluir, um só fulgor.


Eugénio de Andrade

sexta-feira, setembro 19, 2008

O mar começa onde as crianças crescem

O mar começa onde as crianças crescem
mas tenho ainda de procurar a pedra
próxima do silêncio onde dormir.

Eugénio de Andrade

quinta-feira, setembro 18, 2008

Abraço

Num abraço apertado devoram o estranho momento do adeus

quarta-feira, setembro 17, 2008

Roupa estendida

Roupa estendida numa viela
E tantas vidas - escondidas - por detrás dela

domingo, setembro 14, 2008

No meio do caminho


No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra.
Tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.

Carlos Drummond de Andrade

sábado, setembro 13, 2008

tive um coração, perdi-o



tive um coração, perdi-o
ai, quem mo dera encontra
prreso no fundo do rio
ou afogado no mar

amália rodrigues,
in "Gostava de ser quem era"

segunda-feira, setembro 01, 2008

Paragem

Para (re)pensar a vida

Para analisar o mapa dos sonhos
devagar
Para encontrar um rumo