A propósito de gaivotas
A PROPÓSITO DE GAIVOTAS
para Lília Mata
No silêncio das manhãs respiro o voo
das gaivotas no esforço lento do bater de asas
Suave é o gosto da maresia
embebido nas gotas de sol sobre as pedras
Olhamos o horizonte na espera dos barcos
e sorrimos às crianças que passam devagar à superfície
das nossas memórias familiares
E quando damos por nós
o dia esfumou-se-nos entre os dedos
como resíduos que para sempre nos confortarão
no seio dos nossos inconsequentes quereres
às vezes confundidos no universo do tempo
com as obscuras vozes mascaradas
de medos
José António Gonçalves
(inédito, 2003)