Alma de Jardineira

quinta-feira, agosto 28, 2008

uma pequena esperança



éramos as crianças e a água. éramos as árvores.
as folhas das árvores, uma aragem, os pássaros a voar na nossa respiração
éramos as manhãs e nós a sofrê-las, éramos uma pequena esperança.

José Luís Peixoto
in "A criança em ruínas"

segunda-feira, agosto 25, 2008

casa

Porto Santo


Sempre. Um imenso e estranho fascínio por
casas
sem idade.

(Mesmo sabendo que) as paredes
das verdadeiras casas são

os corações onde habitamos

segunda-feira, agosto 18, 2008

Time...

Time's a strange fellow;
more he gives than takes
(and he takes it all)

e. e. cummings

quinta-feira, agosto 14, 2008

rumor de chuva branca

Palácio da Pena, Sintra


A pele porosa do silêncio
agora que a noite sangra nos pulsos
traz-me o teu rumor de chuva branca
(...)

Eugénio de Andrade

domingo, agosto 10, 2008

Às vezes

A manhã às vezes fica muito longe.
E o dia. Fica muito longe.

Só a noite e as sombras e o silêncio e o medo
Têm tamanhos que não alcanço.

sábado, agosto 09, 2008

à janela dos dias


Choras, e nem eu posso
mais do que lágrimas, coisas frias,
sobre as tuas mãos abandonadas
à janela dos dias.

Alta tristeza de cabelos de água,
é no meu rosto que se demora
- meu coração
escreve na noite como quem chora.


Eugénio de Andrade

quinta-feira, agosto 07, 2008

Ondas

Esmoriz, Julho 2008

Nenhuma onda é igual
à quem veio antes e à que virá a seguir.

Nada se repete da mesma maneira.

quarta-feira, agosto 06, 2008

Partidas

Às vezes - algumas ou muitas - Às vezes
parece que
um qualquer estranho ser - sem nome, sem forma, sem lugar -
se diverte a pregar-nos partidas
- tantas ironias tantas -
e depois fica a rir-se, a rebolar-se de tanto se rir
porque as pessoas ficam mesmo
partidas
em pequenos bocadinhos

sexta-feira, agosto 01, 2008

Os troncos das árvores


Os troncos das árvores doem-me como se fossem os meus ombros
Doem-me as ondas do mar como gargantas de cristal
Dói-me o luar como um pano branco que se rasga.


Sophia de Mello Breyner Andresen