Alma de Jardineira

quarta-feira, outubro 31, 2007

Pão-por-Deus

Ainda bem que os Ouriços
costumam ter castanhas.

terça-feira, outubro 23, 2007

Descanso

Um banco.
Árvores.

Silêncio
e
Folhas de Outono espalhadas pelo chão
e
Silêncio. Preciso

de descansar

domingo, outubro 21, 2007

Lágrimas

Tão depressa se ri como se chora.
A vida só sabe ser assim.

sábado, outubro 20, 2007

Dália tardia

Há sempre quem se atrase.
Como esta dália.

Chegou tarde e rodeada de folhas com cinza.
Mas eu reparei nela.
Gostei dela.

Talvez esta dália tardia
me tenha dado mais alegria
do que todas as outras
nascidas no tempo certo

rodeadas de folhas verdes e brilhantes.
Talvez.

terça-feira, outubro 16, 2007

Margarida

Envolta numa solene serenidade
a margarida

observa
guarda
protege

a pequena casa que ainda não tenho
mas que terei não sei quando

domingo, outubro 14, 2007

Caracol

Eu compreendo.

Também eu ando
devagar
Também eu chego
tarde

aos lugares da vida
onde
quase todos chegam cedo.

sábado, outubro 13, 2007

Passarinhos

Deixam-se denunciar
pelo perfume.

E mostram-nos que a vida é perfeita
apesar de toda a sua imperfeição.

Os passarinhos ensinam-nos
a arte do voo
apesar das raízes.

segunda-feira, outubro 08, 2007

Orquídea da Serra

Certa vez quis ter uma orquídea da serra.
Vaso bonito, terra boa, sombra da melhor.
Morreu.

Para me ensinar que nada
(ninguém)
cresce bem e feliz
longe.

Longe do seu lugar
no mundo.

sábado, outubro 06, 2007

Lenha

Quando se
repetem, repetidos

gestos antigos

tudo parece estar
no lugar.

No lugar certo.

sexta-feira, outubro 05, 2007

eu sei exactamente o que é o amor

Jardins de Serralves, Setembro 2007


fico admirado quando alguém, por acaso e quase sempre
sem motivo, me diz que não sabe o que é o amor.
eu sei exactamente o que é o amor. o amor é saber
que existe uma parte de nós que deixou de nos pertencer.
o amor é saber que vamos perdoar tudo a essa parte
de nós que não é nossa. o amor é sermos fracos.
o amor é ter medo e querer morrer.


José Luís Peixoto, in "A criança em ruinas", p. 57

Abismo

Ponta do Pargo, Julho 2007

Por vezes, parecem
intransponíveis
os abismos.

Mas.

Se levantarmos um pouco os olhos
Se olharmos para mais longe
Se
quisermos

veremos

O azul.

terça-feira, outubro 02, 2007

Farol

Farol da Ponta do Pargo


Olho, canso o olhar, olhando
e não encontro
(o olhar já cansado)

o Farol
que deveria mostrar

o caminho